'É difícil para o papa aceitar tudo o que a sociedade pede', diz Hummes

13/02/2013 09:15

 

PATRÍCIA BRITTO
 DE SÃO PAULO 
 
 
 De malas prontas para viajar ao Vaticano, o cardeal dom Cláudio Hummes, 78, arcebispo emérito de São Paulo, disse que dificilmente o papa que substituirá Bento 16 mudará a forma como a igreja lida com temas considerados polêmicos, como o uso de métodos contraceptivos, a união civil entre homossexuais e as pesquisas com células-tronco. 
 
 "Acredito que será difícil simplesmente dizer sim àquilo que é proposto pela sociedade ou pelos legisladores", disse em entrevista à Folha. Rivaldo Gomes - 12.out.12/Folhapress
 
Dom Cláudio Hummes celebra missa em Aparecida (SP)
 
 
 Ele defendeu, porém, o diálogo sobre os desafios contemporâneos nos campos da ciência, da medicina e da biologia, e disse que a igreja deve interpretar o Evangelho de acordo com as "situações diferenciadas da história". 
 
 D. Cláudio, que também é prefeito emérito da Congregação para o Clero, no Vaticano, é um dos cinco brasileiros que participarão do conclave para eleger o próximo papa e que também poderão ser escolhidos como substituto de Bento 16. 
 
 Leia a seguir trechos da entrevista concedida por d. Cláudio Hummes à Folha. 
 
Folha - Como o próximo papa pode evitar a perda de fiéis em países como o Brasil, maior nação católica do mundo? 
 
 D. Cláudio Hummes - Quando o papa Bento 16 esteve aqui, foram traçadas muitas propostas nesse sentido. Depois ele insistiu muito na nova evangelização e em que a igreja deve estar muito perto do povo, sobretudo dos mais pobres. Penso que o novo papa continuará também nessa mesma linha, que aliás está sendo seguida aqui no Brasil. 
 
Como funciona na prática? 
 
 Ir até o povo e não apenas esperar e atender aquelas pessoas que vêm à nossa paróquia, que vêm nos procurar. Nós é quem devemos organizadamente, de forma preparada, ir ao encontro do povo, visitar o povo, evangelizar o povo. Não numa forma de conflito com as igrejas evangélicas, mas fazendo o nosso trabalho com aqueles que nós batizamos. 
 
O próximo papa poderá mudar a forma de lidar com temas como as pesquisas com células-tronco ou a união civil entre homossexuais? 
 
 A igreja não pode mudar o Evangelho que recebeu de Jesus Cristo. Ela deve procurar interpretá-lo e pôr em prática nas situações diferenciadas da história. Sabemos que hoje existem muitos desafios novos nos campos da ciência, da medicina, da biologia. São campos sobre os quais a gente tem que dialogar.
 Mas acredito que será difícil simplesmente dizer sim àquilo que é proposto pela sociedade ou pelos legisladores hoje em dia. 
 
O senhor participará do conclave para eleger o próximo papa e poderá inclusive ser votado. Acredita ter muitas chances de ser escolhido? 
 
 Eu não acredito. Independente disso, eu espero que [o papa eleito] seja um homem mais novo. Nós tivemos um papa muito jovem, João Paulo 2º, que foi eleito com 58 anos, e depois um papa muito idoso, o Bento 16, eleito com 78 anos. Espero agora que encontremos a média. 
 
Qual seria a idade ideal? 
 
 Lá pelos 65 seria uma boa idade, mas isso é um critério menor, não é o prioritário. O importante é que o papa que seja eleito seja um homem de Deus, um homem de fé. Existem bons candidatos. 
 
O senhor acredita que, a partir de agora, a renúncia de papas poderá ser mais frequente? 
 
 Acho que será mais fácil para eles tomarem eventualmente tal decisão. Era difícil uma primeira vez depois de quase 600 anos. A gente entende como deve ter sido difícil. Mas já que este papa é muito racional e ao mesmo tempo um santo homem, ele conseguiu tomar essa decisão. Isso de fato abre portas. 
 
Qual será a importância da visita do próximo papa ao Brasil, prevista para julho? 
 
 Em primeiro lugar, a própria visita e o encontro com os jovens. Depois o fato de ser um papa recente, e certamente será uma das primeiras viagens, se não a primeira viagem internacional que ele fará, então tanto mais importante. E nós ficaremos muito felizes de tê-lo aqui, porque o Brasil é muito importante.